Horacio González
Argentina
(Buenos Aires, 1944-2021). Estudou Sociologia na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidad de Buenos Aires, onde, entre fim dos anos 1960 e começo da década seguinte, participou da experiência das chamadas “cátedras nacionais”, fez a apresentação de uma seleção dos Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci e editou, junto a um ativo grupo de militância política e intelectual no lado da esquerda peronista, a revista Envido. Com a barbárie repressiva desatada na Argentina em 1976, foi obrigado a viajar para São Paulo, Brasil, onde durante seis anos lecionou, escreveu meia dúzia de livros preciosos de divulgação cultural para a editora Brasiliense e trabalhou, sob orientação de Gabriel Cohn, na preparação de sua tese de doutoramento, que voltaria para defender alguns anos depois (já estava instalado de volta em seu país). Essa tese se converteria num livro lançado em 1992, La ética picaresca.
Escreveu incontáveis artigos, podendo se destacar os que publicou na revista Unidos. Nos anos 1990, realizou a experiência da revista de crítica cultural El ojo mocho, que ainda hoje (com um renovado corpo editorial) segue sendo editada. Escreveu nela uma quantidade de textos luminosamente críticos sobre o perigo do avanço da lógica meritocrática, hierarquizante e mercantilista que presidia e preside a vida universitária e publicou – entre outros muitos trabalhos sobre diversos temas – um de seus livros maiores: Restos pampeanos, de 1999.
Iniciado o novo século, e com ele um novo ciclo político na Argentina, González foi designado director da Biblioteca Nacional da República Argentina, a qual renovou e democratizou ao largo de dez anos de uma gestão em muitos sentidos deslumbrante. Nesses anos publicou seu fundamental Perón (2007), sua Historia de la Biblioteca Nacional (2010), livros notáveis sobre Ugarte, sobre Borges, sobre o peronismo, sobre o problema da tradução e sobre os grandes mitos que fundam as nações, além de extensos artigos sobre os mais diversos temas nas páginas da revista La Biblioteca (que fez aparecer pela terceira vez, depois dos períodos em que foi dirigida, célebremente, por Paul Groussac e pelo próprio Borges), e três romances. Nos anos seguintes foi um crítico agudo do governo do empresário Maurício Macri. Seu livro Humanismo, impugnación y resistencia, no qual trabalhou durante os últimos meses de sua vida, foi lançado em edição póstuma.